sábado, 2 de março de 2013



Di, Glauber, Cuba, Eu e os Cineclubes – 2


Clandestino em Cuba, 1982, para participar do 2º Festival Internacional de Cinema de Havana.  Por volta das 15:00h, marcamos “nosotro” e Cosme Alves Neto, para nos encontrar  com Hector Garcia Mesa, Diretor da Cinemateca.

O senhor de cabelos brancos na frente do "Lada", carro amarelo é Santiago Alvarez, considerado um dos 
maiores documentarista do cinema. Foto - Diogo


Do Hotel Nacional até a sede do Festival, caminhando como gostava de fazer o trajeto, levava entre 25 a 30 minutos. Desta vez sair antes porque no meio do caminho tinha a “Coppelia”, ah! a “Coppelia”!!!...
No meio do caminho, tinha a “Coppelia”, mas também tinha no meio do caminho, derreando da rota um pouquinho, o “Cinecito”, um cinema exclusivo para crianças. Antes e após a sessão, os pais levavam e depois pegavam seus filhos. Entrar não podia. Lá dentro, uma equipe preparada para lidar com a gurizada. O gosto pelo cinema lá começa na tenra idade.

 Fotos - Diogo
Fila de pais aguardando a hora para entrada das crianças no Cinecito. O cinema é exclusivo para crianças, adultos não entram e a criança só entra acompanhada ou pelos pais ou um responsável.


Nas tardes de domingo, na “Havana Vieja”, a feira de livros ao ar livre, a preços acessíveis a uma população de baixo poder aquisitivo, mas de estima elevada a uma oitava a mais, é algo de extraordinário e a frase do comandante é famosa “No décimos al pueblo cree, Le décimos Lee”. Passar por lá é sobre peso na mala, ao voltar.

Fotos - Diogo / Na foto acima o fotógrafo perdeu o enquadramento da palavra NÃO da frase.

Platéia ao ar livre ouvindo a conferência sobre a importância da leitura na formação do novo homem cubano.

 Mas seguindo em frente, sem as surpresas dos “desvios”, tinha a Coppelia, ah! A Coppelia!... a melhor sorveteria que conhecia até então. Lá já estava Cosme, como sempre de camisa “Goiabeira”, estilo panamenha, com o seu inseparável charuto Havana, acompanhado por Fernando Birri; Leon Hirszman; Paul Leduc; Paula Gaetan; entre outros. Enquanto seus amigos se deliciavam com as variadas ofertas geladas, Cosme, a certa distância, educado como sempre, baforava...


Fotos - Divulgação 

“Tocando em frente”¹, rumo à Cinemateca, era possível entrar num dos famosos CDR – Comitê de Defesa da Revolução; talvez por ter a “chancela do glorioso Partidão”, pude testemunhar, para muito além das instalações, degraus abaixo, que além de livros, filmes, objetos de artes em geral, as armas estavam lá.

 Fotos - Diogo



“Caminhando e cantando”² ou não, naquela tarde chegamos ao “Palácio do Cinema”, a sala da Cinemateca onde aconteciam as projeções e debates do Festival. Assistimos a  uma sessão cineclubista improvisada e paralela à programação do Festival; composta por dois singulares filmes brasileiros que havia levado a tiracolo: “Zezero” do inventivo, como diria o Jairo Ferreira, Ozualdo R. Candeias e “Amante Muito Louca” do meu velho e  genial Denoy Oliveira.

Após a sessão e as conversas muito animadas “nosotro” e Cosme fomos falar com Hector Garcia Mesa, a quem entreguei uma cópia de 16 mm do filme: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!“- “Di”, de Glauber, como também ficou conhecido o filme, que eu também havia levado a tiracolo e era o único filme do cineasta que falecera em agosto (1982), que a Cinemateca de Cuba não tinha; e com ele, a retrospectiva em homenagem ao cineasta baiano se completou, e o arquivo da instituição ficou um pouquinho mais completo.

Foto-Scanner. Carimbo de entrada no Panamá. Do Panamá seguimos para Cuba. No aeroporto internacional "José Marti" de Cuba, ao invés do passaporte, nós apresentamos um SALVO CONDUTO, que nos foi entregue no Panamá, pela Embaixada de Cuba naquele país. 


Citações
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¹ -  Tocando em Frente, música de Renato Teixeira e Almir Sater
² - Pra não dizer que não falei de flores, Caminhando, música de Geral Vandré.